Olá.
Sim, estive meio sumido.
Não somente pelas festas de fim de ano, mas por estar desenvolvendo textos como esse, e lendo como se não houvesse amanhã.
O assunto é bem extenso, profundo e complexo.
Em meu outro blog, foquei em explicar partes da cultura asiática em diversas reviews antes de falar sobre a obra que iria abordar. Acho necessário ter esse conhecimento antes de falar sobre certas obras para podermos apreciar de forma mais clara e completa tais obras.
Antes de começar a apresentar um monte de reviews de coisas relativamente exóticas e pouco conhecidas pelo público brasileiro, achei de bom grado dar um panorama sobre a literatura asiática.
Quando releio os posts, há muita informação interessante neles, porém… ainda é complicado.
A literatura oriental tem uma gama enorme de informações e uma história e tradição ainda maior. Abordar aqui e ali sobre mangás, light novels, webcomics, literatura marginal e obras clássicas, deixa tudo com um ar meio vago.
Pior ainda quando incluo algumas explicações sobre a cultura local, seja japonesa, coreana ou chinesa. Pois quando se fala Ásia, eu penso nesses países. Óbvio, Rússia está ali. Assim como a Índia e todos os outros.
Mas convenhamos, quando se fala asiático, o que vem à cabeça de todo mundo é isso:
| Admita |
Pois é. Tenho sangue japa na mistura caótica que sou, conheço bem as piadas e afins.
Mas a realidade é que o mundo se torna mais asiático a cada momento, e não estou falando dos milhões de bebês chineses que nasceram enquanto você lia essa frase...
Muitos países e companhias gostariam de impor as condições brutais de trabalho asiático no Ocidente. E a cultura asiática cresce em popularidade a cada dia. Mangás, animes, light novels, literatura… O Ocidente sempre observa o Oriente com um olhar curioso.
E muitas vezes se perguntando “puta merda cara, o que caralhos vocês estão fazendo aí?”
A literatura asiática se inicia na China, em torno de uns três mil anos atrás.
Mas vamos com calma. Sempre lembrando: don’t panic.
Ok. Existe uma enorme variedade na literatura asiática. Muito do que é lido, depende da cultura local. Assim, vamos falar das 3 maiores.
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| China |
China: a base de tudo, uma das culturas mais antigas do mundo. A literatura chinesa é um oceano. Temos textos de séculos, até de um milênio atras, atrás que ainda são relevantes, como A Arte da Guerra, I-ching, entre outros. Também temos coisas mais modernas, como as obras de Mao. A mitologia chinesa é uma coisa fora de série. Desde uma enorme fauna e flora mística, passando por mitos de criação e deuses estranho, grandes obras de ficção como O Romance dos Três Reinos, entre outras. Sem esquecer os imortais e seu sistema de cultivação, o qual vou dedicar outro post para explicar…
O ideológico chinês tem muitas peculiaridades. E não somente a enorme influência do período comunista e sua exaltação do povo chinês. Inicialmente, temos uma grande influência confuciana. Não vou me detalhar, mas resume-se em honra, caráter e castidade. Curioso como a China manteve esses ideais por muito tempo, enquanto que no Japão, a coisa ficou fora de controle…
Um ponto curioso é a cena contemporânea na literatura chinesa. Mesmo com três milênios, a produção cultural chinesa não atingiu o imaginário mundial. Sua cultura é muito intrincada e complexa, com diversas referências a lendas, monstros, deuses, artes marciais reais e lendárias, entre outras coisas que se espera que o leitor já conheça ou tenha uma noção básica. O que acaba fazendo com que não seja tão bem recebida mundialmente, já que são tantas referências que a compreensão se torna complicada. Raramente vemos manhua (mangás chineses) virando animes ou afins. Por outro lado, a cena de light novels chinesa é insana, com milhões de escritores jovens fazendo fama e fortuna (mesmo que local) e cultivando uma série de fãs ao redor do mundo.
E nesse ponto, ela é realmente insana, com dezenas de categorias, das mais variadas. Tenho certeza que você encontrará algo que te agrade nesse meio.
O curioso dessa cena é que muitos ideais tradicionais foram mantidos, enquanto que outros foram jogados pela janela. Ideais de vigor masculino, haréns, força acima de tudo e obsessão com dinheiro são temas bem comuns nessas histórias. Na visão de mundo chinesa atual, poucas coisas são realmente importantes: família, sucesso, fama e dinheiro. Devido a insanidade com que a cultura incentiva esses sonhos, ao mesmo tempo em que simplesmente não oferece meios para a maior parte de sua população os atingir, muitas de suas obra se baseiam em wish fulfilment. Esse termo descreve bem muito do que é produzido. O que significa? Basicamente projetar ideais e situações nos personagens e na história. Como bater em seu chefe, ou humilhá-lo. Estar cercado de várias mulheres lindas que não ligam que você transa com todas elas. Enfim... E não, isso não é tão machista como você pensa, afinal mulheres têm o mesmo tipo de novelas para elas, com haréns masculinos e tudo o mais…
Um ponto curioso são os nomes de autores bizarros, como Eu Como Tomates (I Eat Tomatoes) cujo nome é um jogo de palavras em chinês com base nos caracteres de seu nome, que traduzidos… bem, ficam ridículos. Principalmente por eles começarem a escrever na internet, o que convenhamos, não é um lugar conhecido por sua seriedade.
Ah, e não se esqueça das condições desumanas de trabalho, mão de obra barata e sucateada, poluição a níveis alarmantes, controle estatal massacrante e regulatório.
Se você imagina que não estamos próximos de um futuro cyberpunk, é porque não leu o suficiente a respeito da China.
Acha curioso como uma cultura extremamente massacrante e alienante criou uma cena literária para jovens e jovens adultos tão forte? Não. Não deveria…
Como dizem, quanto maior a repressão…
O que nos leva ao próximo tópico.
| Japão |
Japão: ok. Todo mundo sabe. Mangás. Animes. Hentai. A cultura japonesa tomou o mundo. Raramente você encontra alguém que não tenha uma opinião sobre isso. Apesar da maioria ter uma visão extremamente deturpada do que ela é. Sim, mangás e animes como Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball Z existem. E eles são bem especificamente para crianças. Inclusive, existe um gênero específico para isso, shonen. Basicamente para jovens. Por outro lado, temos obras de inacreditável beleza no mangá, como Nozoki Ana, sobre o qual já fiz uma review (e que irei postar aqui traduzida), assim como horror corporal em níveis perturbadores (como o também já feito sobre Uzumaki). Sim, o grosso é para adolescentes, mas as obras de cunho adulto são extremamente perturbadoras. Homunculus é uma dessas obras, mostrando o declínio da mente de uma pessoa que passou por experiências envolvendo trepanação…
E sim, está na lista a ser analisada.
O numero de gêneros literários dentro da cultura japonesa é extremamente massacrante.
O Japão também é conhecido por sua... insanidade.
Tudo parece ser elevado ao extremo. A cultura japonesa pode ser definida por... quero ser diferente/me destacar.
Temos homens vestidos com roupas femininas da época vitoriana, passando por mulheres que se bronzeiam obsessivamente para tentar parecer com negras, homens de barba e roupas de colegial liderando bandas de Death Cutie Metal (um salve para meu herói LadyBeard, o herói que o mundo merece, não o que ele precisa...) E isso sem falar nos shows de TV totalmente insanos.
O ponto crucial é que a cultura japonesa, é extremamente massacrante. Em certos aspectos, a considero pior do que a chinesa. Enquanto que na China, o sonho de se sobressair e virar um milionário é difícil, porém melhor do que na cultura japonesa, que empurra tudo e todos para um horror suburbano de classe média. É comum pais serem ausentes, assim como distantes. Eles passam mais de doze horas no trabalho, as crianças e adolescentes também são condicionadas a essa vida, com mais de doze horas em sala de aula, assim como a expectativa de que façam parte de grupos após as aulas, estendendo a jornada a níveis alarmantes.
A insanidade japonesa, em parte, é explicável. Com tanta tensão e ansiedade, as pessoas anseiam por duas coisas: se diferenciarem da massa, ou simplesmente afundar na apatia e rir.
A insanidade japonesa, em parte, é explicável. Com tanta tensão e ansiedade, as pessoas anseiam por duas coisas: se diferenciarem da massa, ou simplesmente afundar na apatia e rir.
Isso sem contar toda a insanidade em relação a sexo e afetividade, onde você pode fazer horrores no quarto, ler material pornô gráfico pesado no metrô em horário de pico, mas beijar sua namorada na boca no meio da rua é extremamente chocante.
E mesmo assim, a vida no colegial é sempre vista como o melhor período da vida das pessoas. Sim, é por isso que existe tanta mídia focada nesse período.
Mas não esqueçamos: o Japão é uma terra insana, e quando as coisas saem de controle, tomam outra proporção. Que é o que ocorre com escritores incríveis da literatura adulta japonesa. Escritores como Haruki Murakami, Osamu Dasai e Yukio Mishima elevaram a literatura japonesa a um patamar diferente de tudo já escrito antes. A sua linguagem massacrante, a angústia, a pressão social, tudo isso leva a uma relação de identificação universal. O que resultou em diversos Nobels, prêmios e certa reverência pela literatura japonesa como um todo.
E por fim, em relação as light novels, bem… eles tem uma produção e consumo tão insano como nos outros países. Porém, sempre achei que boa parte das novelas japonesas levam as coisas de forma mais… leves. Óbvio que uma ou outra é bem pesada, mas a maior parte da produção é bem leve em seus temas e com um foco enorme em jovens.
O Japão tem a necessidade de rir, de ter momentos de prazer, mesmo no meio do maior horror existente, sempre há humor. O que me agrada e desagrada ao mesmo tempo.
See ya
O Japão tem a necessidade de rir, de ter momentos de prazer, mesmo no meio do maior horror existente, sempre há humor. O que me agrada e desagrada ao mesmo tempo.
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| Coreia |
Coreia: tenho pouco contato e conhecimento da cultura coreana, tendo apenas alguns pontos e vivências. Li alguns manhwa (versão coreana para mangá) os quais me surpreenderam por sua qualidade e imaginação. Mesmo histórias básicas conseguem ter um apelo diferenciado. Sem contar que violência é algo ainda mais comum do que nos outros. Curiosamente, o ideário confuciano foi meio que abandonado, com o grosso dos jovens coreanos sendo bem livres sexualmente.
A Coreia é outro lugar de horror social, porém, de todos eles, o considero mais aberto e flexível. Apesar de certas tradições serem seguidas, considero a Coreia como um dos países mais ocidentalizados do Oriente. O padrão, modo de vida, relacionamentos e afins são muito próximos do que vivemos no nosso dia a dia.
Porém, não me agrada o extremo xenofobismo. Raramente alguém que se casa com um não coreano é bem vindo de volta a casa dos pais. E se for com um japonês, esqueça, não tem mais família. Sim, conheci um casal assim em Toronto. Ambas as famílias cortaram relações com eles. Porém, era um dos melhores restaurantes japa/coreano daquela cidade. Tudo bem que asiáticos como um todo são xenófobos, preconceituosos e focados demais na própria cultura, mas coreanos em particular ainda mantém muito dessa forma de pensar. Ou ao menos em minha experiência pessoal.
Os aspectos culturais desses países obviamente causam grande impacto em sua literatura, os quais pretendo abordar mais especificamente quando for escrever sobre um deles. Afinal, isso é somente um panorama.
A Coreia é outro lugar de horror social, porém, de todos eles, o considero mais aberto e flexível. Apesar de certas tradições serem seguidas, considero a Coreia como um dos países mais ocidentalizados do Oriente. O padrão, modo de vida, relacionamentos e afins são muito próximos do que vivemos no nosso dia a dia.
Porém, não me agrada o extremo xenofobismo. Raramente alguém que se casa com um não coreano é bem vindo de volta a casa dos pais. E se for com um japonês, esqueça, não tem mais família. Sim, conheci um casal assim em Toronto. Ambas as famílias cortaram relações com eles. Porém, era um dos melhores restaurantes japa/coreano daquela cidade. Tudo bem que asiáticos como um todo são xenófobos, preconceituosos e focados demais na própria cultura, mas coreanos em particular ainda mantém muito dessa forma de pensar. Ou ao menos em minha experiência pessoal.
Os aspectos culturais desses países obviamente causam grande impacto em sua literatura, os quais pretendo abordar mais especificamente quando for escrever sobre um deles. Afinal, isso é somente um panorama.
Já aproveito e informo que não irei falar de obras famosas, como O romance dos três reinos, Dragon Ball, One Piece e similares. Muito já foi escrito sobre elas.
Meu foco são em obras menores, algumas desconhecidas, algumas das quais até que são bem conhecidas em seus nichos.
Irei falar de light novels, mangás, obras de ficção, obras de não ficção e o que mais tiver.
Irei falar de light novels, mangás, obras de ficção, obras de não ficção e o que mais tiver.
De acordo com o tema da obra irei falar um pouco sobre as questões culturais específicas, como sexualidade no Japão e Coreia, mitologia chinesa, assim como peculiaridades dentro de peculiaridades que podem surgir, como os gu de Reverend Insanity.
Faz certo tempo que me interessei pelo tema, tendo lido diversas obras, portanto tenho muito o que escrever a respeito.
Faz certo tempo que me interessei pelo tema, tendo lido diversas obras, portanto tenho muito o que escrever a respeito.
Tanto bem quanto mal.
Então se tem algum interesse nisso, prepare-se: tem um monte de reviews vindo pela frente.
See ya
















