Bem, limpemos o palato após Sapiens.
Isaac Asimov é uma referência na ficção científica. Sua obra, como Eu, robô, Fundação, entre outras fazem parte do imaginário popular. Mesmo que as adaptações de seus livros usualmente deixem, e muito, a desejar, raramente conseguem danificar o legado de sua obra.
Mas não é desse Asimov que falamos aqui.
Asimov era um excelente contista e cronista. Sua visão da raça humana não era das melhores, conforme é claro em seus livros e outros contos.
Porém, há uma face dele pouco conhecida. Ele apreciava escrever fantasia.
E quando o fazia, escrevia de forma simples, debochada e bem mais livre e informal.
É uma face que eu jamais conheceria se não fosse meus interesses exóticos.
Afinal, se você está pesquisando livros sobre ocultismo com foco em demonologia e subitamente vê o nome de Asimov entre os resultados, claramente fico interessado.
Pois bem, sobre o que se trata esse livro?
Um pequenino, de 2 cm de altura, demônio.
Segundo nos é informado, um ser ínfimo e descartável em seu próprio mundo, porém com poderes inimagináveis para nós, meros humanos.
Ah, e não esqueçamos de George, seu conjurador. Friso o conjurador, pois não é seu dono, muito menos seu mestre. George seria um facilitador para as atividades de Azazel.
George, apesar de sua apresentação como um homem digno e honesto, não passa de um tremendo pilantra, roubando trocos, buscando almoços grátis e se aproveitando de quem consegue.
Ele eventualmente busca em Azazel ajuda para resolver problemas de seus amigos, o que raramente dá certo.
Não por Azazel ser um demônio. Longe disso, claramente ele quer ajudar, mas não tem a menor noção de nossos costumes, hábitos ou sequer biologia humana, por consequência, gerando ainda mais problemas.
No fundo, esses pequenos contos são um deleite de se ler, ao mesmo tempo em que mostra uma face de Asimov, onde pode-se ver claramente sua ideia acerca de nós, humanos.
E não é uma bela face.
Inveja, vinganças ínfimas, desejos carnais, banalidade acima de inteligência, a lista é enorme.
Obviamente, apresentado de forma cômica, em situações inusitadas, porém facilmente podemos nos colocar no lugar dos amigos de George.
Com um pouco de sorte talvez até conseguiríamos escapar do destino de algum deles. Porém, a maior parte das vítimas da ajuda de George não tem culpa, nem como escapar de seus destinos, devido ao combo de desconhecimento de Azazel e certa incompetência de George.
Em particular gosto muito do conto Os olhos de quem vê, apesar de um tanto moralista, tem uma certa tristeza em seu fim. Mas extremamente real.
Outro, Mais coisas no céu e na terra, valem pela anedota e crítica ao governo Reagan.
No geral, todos valem a pena.
O mais curioso é o quão recente o livro é. Uma das últimas obras de Asimov. Curioso como não é mais famoso, possivelmente retrato do certo preconceito de seus fãs.
Não nego que sua obra na ficção científica seja seu maior e mais interessante trabalho, mas coloco esse livro em igual patamar a sua série sobre robôs.
Não é algo muito pesado, pelo contrário, é uma leitura leve, capaz de ser lido em poucas horas.
Infelizmente, raramente o acho em versão impressa. As poucas edições, são antigas e raras. Geralmente quem tem o prazer de tê-las, não se desfaz. Mesmo em bibliotecas não é fácil encontrá-lo.
Felizmente é um e-book facilmente encontrado na net.
Recomendo-o ferozmente, independente do formato encontrado!

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