Olá!
E mais uma vez voltamos ao universo de Douglas Adams!
O livro começa nos dando um panorama sobre o que aconteceu, de forma irônica. Em seguida, nós mostra a nave vogon perseguindo nossos heróis (usando o termo de forma bem generosa). Temos um vislumbre do possível responsável por tudo que aconteceu, o psicólogo Gag Halfrunt. Por que e outras perguntas são irrelevantes no momento.
Arthur está em uma discussão com o processador de bebidas, tentando fazer um copo de chá. Em sua explicação do que é chá e como fazê-lo, ele acaba travando totalmente todos os circuitos da nave. Exatamente enquanto todos estão tentando fugir dos vogons. Os quais resolvem atacar.
No meio disso, Zaphod resolve fazer uma sessão espírita e invoca o espírito de seu bisavô. Em uma discussão acalorada, Zaphod e seu bisavô discutem até Zaphod ter uma epifania e ser informado sobre qual sua missão. Descobrir quem é a pessoa que realmente detém poder no universo. Afinal, todos sabem que o cargo de presidente não tem nenhum poder, na verdade, apenas distrai as pessoas do poder real. O avô de Zaphod os ajuda, garantindo que ele pode se ferrar se precisar de ajuda novamente…
Halfrunt se delicia com a notícia da morte da trupe. Afinal, se a resposta e a pergunta for de conhecimento universal, como diabos psicólogos irão fazer dinheiro? Enquanto isso, o grupo se restabelece e percebe que Marvin e Zaphod desapareceram. Eles por outro lado estão como que congelados no tempo exatamente antes do ataque mortal…
Cortamos para a sede do Guia. Um lugar de tanto luxo que chega a ser decadente. Zaphod foi transportado para lá. Não sabe por que, nem como chegou. É quando seu cérebro lobotomizado envia uma ideia, ele reluta um pouco antes de acatá-la. Ele segue é vai em busca de um editor específico do guia, junto com Marvin. O prédio é atacado pelo governo dá galáxia, que está perseguindo Zaphod, afinal, não só ele abandonou a presidência, como roubou a Heart of Gold. Ele se encontra com o Roosta, enquanto Marvin é posto para enfrentar os robôs de ataque. E Marvin ganha. Muito possivelmente diferente do que você imagina.
Infelizmente, nada disso adianta, já que eles simplesmente resolvem levar o prédio inteiro, e por consequência Zaphod, para seus mestres. E aparentemente, por causa do plano que Zaphod está trabalhando há anos… Roosta informa que ele será colocado no Vortex de Perspectiva Total, o mais selvagem modo de matar uma pessoa. Que basicamente mostra a ela seu tamanho em relação ao universo e o quão minúsculo se é.
Obviamente Zaphod não é afetado pelo Vortex.
Ou será que não? Após sobreviver, Zaphod busca uma forma de fugir e encontra uma nave. Nesse ponto que você começa a perceber uma predominância que se estabelece na série: humor negro.
Sempre houve uma ponta de humor negro na série, mas é nesse livro que as coisas se tornam… Mais frequentes. E mais pesadas.
Por exemplo, essa nave está parada, aguardando o recebimento de toalhas umedecidas com aroma de limão. Porém, a civilização que aqui habitava, morreu. Ao invés de seguir viagem, os autómatos da nave decidiram manter os passageiros em animação suspensa, os acordando anualmente para chá e bolachas… durante milénios. Ao serem acordados, eles lutam, gritam e desesperadamente tentam fugir, apenas para serem novamente jogados em animação suspensa.
O computador explica que eventualmente uma nova civilização irá surgir no planeta e entregar as toalhas umedecidas, portanto o melhor a fazer é esperar. A insanidade dessa decisão, assim como sua lógica, não fazem parte do mundo biológico, mas para a nave, é uma decisão óbvia. É esse tipo de cena que começa a ser tornar comum, mostrando um lado de Douglas Adams que me incomoda um pouco.
É também assim que Zaphod encontra o editor do Guia que ele procurava. Aqui vemos como Zaphod é/era genial. Tudo isto faz parte do plano. Inclusive um detalhe: quando Zaphod tenta fugir dá polícia, ele pula pela janela. Isso ativa um universo paralelo simulado, projetado para fazer com que Zaphod seja o centro do universo e ele sobreviva ao Vortex de Perspectiva Total. Inclusive, a Coração de Ouro está no bolso de sua jaqueta. Irritado, ele entra na nave, seguido do editor, que o instiga a seguir o plano de encontrar o real poder dá galáxia.
Mas Zaphod não quer nem saber. Ele está com fome e pede para a nave levá-los para o restaurante mais próximo. E é o que ela faz, pulando milhões de anos para o futuro, para o Restaurante no fim do universo.
Eu gostaria de tirar um momento para ponderar sobre esse restaurante.
Eu o considero uma das mais niilistas criações literárias jamais criadas.
Por que?
Imagine o fim de tudo que existe. O ponto final da existência. Não dá existência como a conhecemos, mas o fim de tudo. O fim absoluto.
Agora imagine transformá-lo em um espetáculo. Não somente um espectáculo, mas um espetáculo cansado, uma distração, como um show de velhos ex-famosos em Las Vegas.
Não só isso.
Coloque preços absurdos nós pratos, porém como estamos no fim do universo, qualquer quantia em uma poupança fará com que você tenha todo o dinheiro imaginável.
Coloque para coroar um apresentador cínico e desiludido fazendo piadas sobre a situação.
Dificilmente se encontra algo assim.
O fim de tudo é um espectáculo de segunda categoria, um paraíso hedonístico onde se vai para esbanjar. Onde todos que foram alguem passam por lá. Uma aberração espaço-temporal de proporções realmente cósmicas.
Por fim, coloque Zaphod falando que isso tudo é chato, algo que nem vale a pena ver…
Após comerem, a trupe resolve fugir, não é sem antes esbarrar em caricaturas bizarras, como o vocalista da maior banda de rock de todos os tempos, que está passando por um ano fisicamente morto para evasão fiscal, um profeta ressurgindo segundos antes do Apocalipse e o pobre Marvin que ficou esgotando por eles esse tempo todo nesse planeta…
Marvin, por falar nele, começa a exibir um comportamento genial, onde não somente continua sendo desagradável e depressivo, como se torna extremamente passivo-agressivo, com direito a cálculos para ser ainda mais desagradável. Um toque genial para um personagem que adoro.
Eles roubam uma nave, pois Zaphod se recusa a seguir o plano que ele mesmo traçou. Roubam a nave do roqueiro morto, que por acaso está programada para se colidir com um sol…
Outro ponto que considero exageradamente desesperador é o show da tal banda de rock, o qual inevitavelmente mata seus fãs no choque pirotécnico do sol, ou com o som insanamente alto de seus alto-falantes… imagine ir para um show de rock onde o resultado é morte ou quase lá….
Por fim, a trupe tenta fugir da morte iminente por meio de um teleporte aleatório que os lança pelo universo. Marvin, permanece na nave para operar o teleporte e… Encontrar seu fim dentro do sol…
Zaphod e Trillian são lançados na Coração de Ouro, onde encontram o editor, pois sim, Zaphod havia planeado tudo. E ainda falam como se ele fosse um idiota… eles vão ao encontro com o verdadeiro senhor do universo, o centro do poder.
E obviamente, não é o que esperávamos. Um cara simples, que duvida de tudo é só acredita no que vê diante de seus olhos. Sinto até uma certa semelhança com Azathoth de Lovecraft, o ser universal, insano e sem inteligência. As decisões são feitas quando os líderes do universo trazem problemas para ele resolver, o qual ele faz com base no que acredita. Afinal, como Douglas coloca, se não devemos entregar o poder para quem o deseja, somente alguém sem a menor vontade ou ambição sobre poderes deve detê-los. Zaphod e Trillian se entendiam e vão embora, deixando o editor com o senhor de tudo, o qual o tranca fora de sua casa. Na chuva.
Por outro lado, Arthur e Ford são lançados em uma nave… curiosa. É uma nave de colonização cheia de… Gente inútil. Agentes de pesquisa de opinião insistentes e persistentes, limpadores de telefones, cabeleireiros inovadores que testam cortes sem sua permissão, atendentes de telemarketing mau humorados, seguranças com mania de grandeza… você conhece o tipo.
O planeta original permanece com os grandes génios e líderes assim como os trabalhadores esforçados, os quais somos informados que levaram vidas incríveis até morrerem de um vírus mortal surgido de bocais de telefone sujos…
Lembram quando falo sobre certo padrão depreciativo e de humor negro questionável? Pois é…
Ah sim, e essa gente são nossos antepassados, pois essa nave cai no nosso planeta, aproveitando e destruindo os planos do computador que responderia sobre a vida, o universo e tudo o mais… ah sim, isso sem antes Adams colocar a terra sem intervenção humana como a maior beleza do universo. Como disse, certas coisas começam a me incomodar. Por exemplo, Ford começa a agir como se a Terra pré-humana fosse o melhor lugar do universo…
E não esqueçam que Arthur e Ford estão ilhados nesse planeta com essa gente. Eles buscam algum lugar onde consigam pegar uma transmissão, esbarram com nativos, e como dito, se apaixonam pela beleza da Terra. No fim, Arthur e Ford se resignam a viver com essas pessoas, ignorando que a espécie nativa do planeta, que buscava a real pergunta para a resposta definitiva, está morrendo devido às influências ambientais.
Uma coisa que se começa a perceber já nesse livro, é que algumas piadas, ao serem repetidas, vão perdendo a graça. Basicamente o eterno horror e desespero de Arthur começa a me irritar.
Da mesma forma, é possível notar um certo ar de infelicidade e existencialismo: psicólogos querendo destruir a resposta para a vida, o universo e tudo mais, assim como um certo descaso com a existência como um todo. O Vortex de Perspectiva Total é outro ponto incômodo, nos forçando a ver que de uma perspectiva ampla, não somos nada, totalmente incapazes de fazer ou mudar algo de forma satisfatória. Algo que discordo também, mas por minhas perspectivas filosóficas.
Apesar disso, ainda considero esse livro excelente, cheio de ideias magnífica, visões de grande beleza e um humor excelente.
Infelizmente, esse é um dos últimos livros da série que realmente adoro.
Daqui pra frente, é só ladeira abaixo.
Inclusive, após chegar no fim da ladeira, teve alguém que se dispôs a cavar um buraco para baixar ainda mais o nível…
