22 de novembro de 2018

Reconhecimento de padrões - William Gibson (Trilogia Blue Ant Livro 1)




OK. Vamos ser diretos: eu gosto desse cara. Eu REALMENTE gosto dele. Ele é muito especial para mim. Neuromancer foi um livro importante pra minha formação. Eu amo cyberpunk. Especialmente no seu começo.
Gibson é incrível, um dos pioneiros do gênero. Alguns dizem O Pioneiro. 
Ele escreveu uma história magnífica na Trilogia do Sprawl. Mas ele não é um "one trick pony" (Bojack feelings, anyone?). Ele é um grande escritor, mesmo que quase sempre use o  mesmo padrão. 


Protagonista esquisito e um pouco alienado, com um passado complicado e habilidades estranhas e exóticas? Sim.

Cayce é uma mulher estilosa e inteligente com um medo patológico de marcas, brands, o que a dá o "superpoder" de saber se um novo logo vai ou não funcionar. Ela é viciada em pilates, customizar suas roupas e no geral uma mulher chique e avant-guard.

Diversos personagens secundários estranhos e excêntricos, vivendo à margem da sociedade e que terão um uso na história mais tarde? Óbvio.

Se existe algo que Gibson faz, e bem, é usar o princípio da arma de Chekhov. Todos e tudo que é mencionado tem relevância. Principalmente para o desenrolar do plot. Se ele apresenta um personagem estranho e exótico, tenha certeza de que ele será "usado" para avançar a história em algum momento. Logo no início, ele nos apresenta um grupo de especialistas excêntricos, que estão sempre aparecendo em seus livros. Temos o artista experimental esquisito, que conhece um mercador de curiosidades, que é conectado com um colecionador obsessivo de curtas com um passado misterioso.
Temos também o sombrio e meio maligno homem corporativo, dessa vez na forma de Hubertus Bigend, um gênio do marketing que está sempre tentando monetizar com as trends. E a porra da Dorothea. Deuses, ela é uma puta psicopata.... Ah sim, e eles todos vivem no mundo periférico underground, cheio desse monte de pessoas esquisitas. Muito Gibsoniano.


Isso é uma curta. Sim, elas existem.

Mistério bizarro que precisa do esforço conjunto dos personagens para ser resolvido? Sim.

Sim, dessa vez não é uma caixa cheia de bugigangas (sim... eu amo Mona Lisa Overdrive apesar disso) mas sim um pedaço de um filme estranho que simplesmente brotou em diversas partes da internet. Eles são coletados e discutidos em um fórum online de fãs. Cayce é contratada pelo meio maligno Hubertus para pesquisar e encontrar o criador. Fundos ilimitados estão disponíveis. Óbvio que ela aceita. Ele quer monetizar isso. Como? Vai saber... mas ela tem que agir como se fosse uma coisa Ruim, caso contrário, não seria um livro do Gibson.
E dessa vez, diferente de Mona Lisa Overdrive, faz sentido. A história do criador e como ele/a o cria é linda e tocante.



Um final meio apressado, que te deixa com a impressão de que em algum lugar, alguém estava exigindo que Gibson entregasse o livro no prazo, que ele empurrou pra além do aceitável pela editora? Infelizmente sim.
Até o momento em que ela se encontra com a Dorothea no lobby, tudo bem. O ritmo está ótimo, o modo como a história se desenrolou é ótimo, tudo parece muito bem! E então... pula para um tempo depois, sem muitas explicações sobre o que caralho aconteceu, e um último capítulo que tenta juntar todas as pontas soltas da história.
Dá até pra sentir que deveria ter um capítulo ali no meio, mas o prazo explodiu, o editor pegou o que tinha e falou "acabe com isso!" (Algo que, eu acredito, deveria ser feito com G. R. R. Martin. Aprendam algo com o editor de Douglas Adams! Botem o velho gordo dentro de um cofre e só o libertem quando ele acabar de escrever Winds of Winter, pelos deuses!)

Sim, é um livro do Gibson. E também, um bom livro. O modo como ele escreve e planeja seus livros é fantástico. Se você começar a procurar os mecanismos que ele geralmente usa, como já dito, você encontra todos eles em todos os livros dele. Mas mesmo assim... capaz de você gostar. Por que? O ritmo é rápido, os personagens interessantes, o modo como a história avança é inventivo e inteligente. Geralmente seus mistérios são tão estranhos, exóticos e diferentes de todo o resto que você tem que saber o que diabos é isso.
Por isso o considero um gênio: mesmo que você saiba para onde ele está indo, você aprecia a jornada. Mesmo que o final seja meio apressado, meio nas coxas, ou ruim mesmo (Count Zero por exemplo...) você ainda quer chegar lá.

William Gibson é um escritor que se deve sempre ler. Mesmo seus piores trabalhos tem algo de interessante e intrigante. Ele é um visionário. Ele praticamente previu como usamos a internet. E jamais se esqueça do quão interessante são seus personagens.
A coisa mais interessante que ele nos proporciona é que sempre tem um quê de ficção científica no seu trabalho.Mesmo nesse livro, que se passa ali após os eventos de 09/11, tem um gosto de sci-fi. Talvez seja a forma que ele escreve, o modo como ele enxerga a tecnologia, não sei. Não é ficção científica. Mas muitos, eu incluso, classifico como ficção científica.
E como um ávido fã de seu trabalho, vou fazer a review de toda a Trilogia Blue Ant.


Mas sejamos justos: eu não tenho grandes expectativas para o segundo livro. Até hoje, a grande maioria dos segundos livros de suas trilogias não me agradaram. Count Zero é bem interessante, mas o final é horrível. Minoru me deixou com um gosto estranho na boca.
Talvez esse seja o livro que mude minha perspectiva, mas não tenho grandes esperanças.

E acho que você também não deva às ter...

See ya.

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