Não é surpresa para quem me conhece ou convive comigo que boa parte de meu tempo é gasto ouvindo podcasts.
Podcast é um vício em minha vida. Se não posso ler, ouço sobre coisas de meu interesse. Ok, o grosso do que ouço é sobre serial killers, teorias da conspiração e afins, mas isso não vem ao caso.
Ouvindo um dos grandes e mais influentes podcasts, The Joe Rogan Experience, ouvi uma entrevista interessante com um indivíduo de nome Yuval Noah Harari.
Ao menos, eu creio que tenha sido nesse podcast. Ouço uma grande variedade e eventualmente me confundo.
Enfim, ele estava discutindo sobre seu livro, e Joe Rogan, como o maravilhoso louco que é, estava focando no que lhe interessou mais no livro: o período onde nós, sapiens, não éramos a única espécie de ser humano habitando o mundo.
Yuval tentou explicar que a maior parte de seu livro não se tratava disso. Mas, para quem conhece Joe Rogan, não adiantou muito. Achei a entrevista interessante e coloquei esse livro na minha lista de leituras futuras.
Passado um bom tempo, comecei a ver muitas pessoas lendo esse livro. Algo bem raro no Brasil. Aquilo me fez lembrar que esse livro existia. Até que belo dia, indo tomar um café, o vi em promoção, pela bagatela de vinte e pouco reais. Após anos e anos sem comprar um livro físico, me vi tentado. E o comprei.
Cara.
Oh boy…
Podia ter comprado uns cigarros com esse dinheiro…
Assim, não me leve a mal quem gostou do livro. A expressão que define minha relação com o livro é “not my cup of tea”.
Não pelo conteúdo. O grosso que choca as pessoas, como descobrir que existiu um ser denominado homo floresiensis convivendo com nossos antepassados, pra mim já é notícia velha. Bem velha. As divagações sobre outras questões, pra mim, são muito amplas e desconsideram diversas descobertas, como agricultores em ruínas antigas (apesar de mencionadas vagamente), ou a evolução do que chamamos de economia, que não só não é novidade, como discordo em termos e em algumas conclusões. E que já li autores melhores falando sobre o tema.
Mas não tenho problemas com isso.
Meu problema se resume à fórmula com que ele apresenta as idéias, assim como as idéias que ele apresenta.
Como assim fórmula?
Simples. Leio com frequência livros de não ficção. Usualmente quando se apresenta algo de amplo espectro, como fatos históricos, se utiliza uma fórmula, apresentando os fatos conhecidos, especulações sobre os fatos, eventualmente apresentando fatos questionáveis e assim por diante.
Yuval segue uma fórmula que considero… Irritante.
Quem eu quero enganar? Considero o tom dele condescendente e pedante. Talvez ainda mais no inglês do que no português! Aparentemente a tradutora resolveu minimizar o grosso do pedantismo na tradução, mas ainda assim, beira o insuportável. Pode parecer um tom professoral para alguns. Não pra mim.
Mas voltemos à fórmula. Basicamente seu livro se abre com algo que concordo absolutamente: o ser humano é um animal como todos os outros. Óbvio. Em seguida ele fala, o que considero um absurdo, que não somos mais capazes ou melhores que os outros animais…
Vamos lá. Primeiramente, me incomoda essa frase. O ser humano, apesar de um animal, por sua capacidade intelectual e manual é mais apto a sobreviver e dominar seu ambiente. Isso significa que o considero superior? Não. Mas é um fato: o ser humano, como animal social, é o maior predador que existe.
Segundo ponto, ok. Você me diz que não somos especiais. Certo. O que ele faz em seguida? Ah, passa dois capítulos explicando como o sapiens é superior ao Neanderthal e outras variantes e o resto do livro é sobre como esses animais, nada especiais de acordo com suas palavras, evoluem com base em sua habilidades e capacidades… especiais.
Sério?
Sério mesmo?
Você abre seu livro falando como o homo sapiens NÃO é especial.
E em seguida tem mais de quinhentas páginas explicando sobre como as habilidades especiais dele criaram nossa civilização?
Pelos deuses…
É como um livro de matemática começar falando que a matemática não é lá uma matéria fundamental pro entendimento do mundo, para em seguida mostrar como a matemática é a base para a compreensão do mundo moderno!
Mas ok.
Ok.
O tom com que ele fala é condescendente.
Sua fórmula de apresentação é irritante e contraditória.
A informação que ele apresenta é interessante?
Sim.
Se você tiver uma base histórica mediana, se lembrar de pontos históricos específicos e assim por diante. Sim, talvez seja interessante.
Se você lembrar de umas quatro aulas de história do ensino médio, já vai discordar de algumas coisas.
Se você ignorar que, como boa parte dos acadêmicos da área de humanas, ele é veementemente anticapitalista. Veja bem: não disse que ele é comunista. Nem aparenta ser de esquerda, verdade seja dita. Mas me irrita seu discurso anticapitalista.
Ou seja, é um ótimo livro sobre a evolução da raça humana, se você é totalmente leigo no assunto.
A segunda parte do livro fala sobre agricultura. Obviamente ele comenta sobre como ela surgiu e as facilidades que criou e possibilitou a raça humana a se expandir. Para em seguida a chamar de “a maior fraude”. Porque? Ele alega que houve um foco em monocultura na produção de alimentos, contribuindo para uma dieta mais pobre e maior deficiência alimentar.
Ok.
Em lugares específicos houve foco na monocultura de alimentos. Porém, na grande maioria dos lugares, não. Sim. Há monocultura, porém ela só se tornou foco na era medieval, onde com o surgimento das taxas pagas em trigo (ou outros grãos de fácil armazenagem) o foco na monocultura, assim como a má alimentação, se tornaram comuns.
Na terceira parte, ele fala como a capacidade de abstração humana criou ideologias, as quais ele chama de religião. Pra mim, um erro crasso. E obviamente, critica as religiões e o capitalismo.
Sim, ele equipara como religião o socialismo e o catolicismo. Nem vou me estender no assunto. Não acho que valha a pena.
A quarta parte, extremamente insuportável, ele foca no imperialismo. Suas vantagens e desvantagens. E mais uma vez, critica fortemente o mesmo. Mesmo insistindo que o imperialismo não é tão ruim, passa paginas e paginas criticando-o. Ah, e quando não age como se estivéssemos todos fadados a morte nesse sistema terrível, sendo esmagados pelas engrenagens capitalistas... enquanto enaltece alguns pontos.
Como eu disse, me desagrada e irrita esse vai e vem. Ainda mais suas críticas e conclusões, as quais discordo, como já dito.
Para finalizar, o livro termina extremamente previsível: as críticas e monstros padrões do vox populi científico de baixa qualidade.
Oh! Podemos criar seres de proveta! Podemos alterar seu DNA!
Oh, os horrores do nosso conhecimento imoral!
Onde iremos parar??
Me poupe. Sem ofensas, mas já li críticas e defesas bem mais interessantes e convincentes do que as apresentadas no livro.
E finaliza o livro com o sombrio “Existe algo mais perigoso do que deuses insatisfeitos e irresponsáveis que não sabem o que querem?”
Sim. Autores pedantes que agem como se a humanidade fosse uma nuvem de gafanhotos com poderes divinos.
Não endeuso o ser humano, reconheço ser um ser falho, como todo bom humanista. Mas também não tenho essa gana em odiar a própria espécie que muitos tem.
Sim, existe um número enorme de pessoas insuportáveis, porém também existe um número igualmente grande, senão maior, de pessoas interessantes.
Agora aceitar, apreciar ou gostar de alguém que destila toda essa visão negativa da humanidade, não. Não me peça isso.
Muito menos que eu goste disso.
Enfim, um livro interessante para uma visão macro, e tendenciosa, da evolução humana.
Sinceramente, aprecio o esforço de tentar condensar nossa história, porém seu viés ideológico não me agradou.
Não o culpo também.
A história humana é variada e longa demais para ser condensada em um único livro.
Apesar de suas longas (e cansativas) páginas, não faz jus ler tal livro se você já tem um conhecimento mediano sobre a história humana.
Como no meu caso.
Se for o seu fique a vontade para ler…See ya

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